CAPÍTULO 1
Vida de detetive é algo triste. Por quê? Porque casos difíceis são muito complicados, então eu fico com casos simples que podem ser resolvidos rapidamente. Isso é ótimo, aliás! Afinal... Casos rápidos resultam em mais tempo livre e mais tempo livre resulta eeeeem... mais tempo para games!
Mas às vezes é entediante, sabe... Sei lá, tem aqueles momentos em que você fica horas tentando avançar e simplesmente não consegue, daí resolve deixar os games de lado e fazer outra coisa... Esses momentos são muito chatos! Por quê? Por que a vida real é entediante!
Pois bem, era um desses dias. O sol brilhava, os pássaros cantavam, o gato da vizinha comia os pássaros que cantavam... E eu estava a longas duas horas tentando avançar e nada. Sem escolha, larguei meu psp e fui procurar outra coisa para fazer.
Bom, entediado, parei para pensar... o que se pode fazer quando não se quer jogar?
...
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Pergunta difícil...
Andei sem rumo de um lado para o outro. 1ª opção: arrumar meus sobretudos, mas estava desanimado demais para isso. 2ª opção: incomodar a Sammy, mas ela foi treinar. 3ª opção: doces.
Uhm... doces sempre são uma boa opção...
Fui, animado, até a cozinha.
Sem doces no armário... Sem sorvete no congelador... Sem doces na geladeira... Tinha açúcar no açucareiro, mas não achei essa opção muito agradável.
Tsc... Sem vontade de jogar, nem de organizar meus sobretudos... e sem doces!
...
Por que não me matam de uma vez?!
Ouvi o barulho da porta abrindo. Sammy chegou! Hora de pôr em prática a opção nº2!
-Yoo, Sammy! –Falei quando a vi. –Como foi o treino?
-Normal, vou tomar um banho.
-Só normal? Nenhuma novidade?
-Exato. –A voz dela indicava um início de nervosismo.
-Nee, Sammy! Nenhuma mesmo? –Falei seguindo-a até seu quarto.
Ela não respondeu. Parou em frente à porta do quarto, impedindo que eu entrasse.
-Não tem mais nada de útil para fazer? –Perguntou com um daqueles meigos olhares do tipo “cale a boca ou eu corto sua garganta”.
Ela entrou no quarto e fechou a porta. Eu abri a porta e sentei na cama. Pela cara, ela parecia indecisa entre me expulsar ou me bater.
-Pior que não. –Falei cruzando os braços. –Você tem algum doce? –Perguntei, me debruçando sobre a cama e abrindo a última gaveta do criado mudo à procura de algum lanche.
Vasculhei toda a gaveta e a únicas coisas que encontrei foram duas caixas de chocolate vazias e alguns papéis de balas. Levantei e comecei a procurar na estante.
-David... você tá bem? –Ela perguntou com uma expressão engraçada, mistura de riso e confusão.
Parei, olhei para ela e suspirei. Eu devia manter a compostura naquele momento difícil.
-Sammy! –Falei me jogando na cama. –Preciso de doces, e de alguma coisa para me distrair. –Completei, passando a mão pelo rosto.
-Já passou horas na frente daquele psp?
-Já.
-Organizou os sobretudos?
-Não tenho vontade.
Ela se assustou.
-... Sério? –Perguntou.
Não respondi, só olhei para ela.
Insensível! Ela ficou rindo da minha cara!
-Para com essa cara de choro. Vou tomar um banho e depois vamos ao mercado. –Falou cruzando os braços e apoiando as costas na parede.
-Comprar doces?
-Armas. –Respondeu com jeito sarcástico.
Levantei.
-Sinto muito, não vendem lá. –Disse indo até a porta. –Maaaaas... eles tem doces! E é isso que importa no momento. –Pisquei um dos olhos. –Estou te esperando, não demore.
Fui trocar de roupas, depois fiquei assistindo um programa qualquer na televisão enquanto esperava ela se arrumar.
O mercado perto de onde moramos não tem muitas opções de doces então, só para variar um pouco, resolvemos ir para o shopping.
Adoro aquele lugar. Tipo, lá tem tudo: mercado, lojas de doces, de games, lojas de sobretudos, praça de alimentação e cinema. Traduzindo: o lugar perfeito para ir de vez em quando.
-Não gosto desse tipo de lugar, não posso levar armas, no máximo uma faca ou outra. –Sam disse baixo.
Minha assistente deve ser louca, só pode.
-E por que infernos você iria querer levar um revólver para um shopping? –Tsc, a profissão anterior devem ter deixado ela um pouco paranóica... –Ah, vamos aqui! –Entrei em uma pequena loja, cheia de doces coloridos e que também vendia revistas e mangás.
Ao lado do caixa, no qual uma atendente estava distraída lendo algo em um notebook, ficavam pequenas cestas de compras. Peguei uma e fui para as prateleiras onde ficavam as balas e os chicletes. Sam, como a boa chata de sempre, não me acompanhou em minha jornada em busca de doces bons e baratos, ao invés disso ela foi até uma estante onde estavam as revistas e os mangás.
-É mesmo absurdo... –Ouvi a moça do caixa pensar alto.
-Algum problema? –Perguntei enquanto deixava as balas de lado e ia atrás de outros doces.
-O sistema de segurança do nosso país mostrando, mais uma vez, o quão bom é... –Ela falou rindo com escárnio, em seguida virou o notebook para que eu pudesse ver a notícia. –Fuga do presídio estadual, um psicopata solto pelas ruas dessa cidade... O cara foi preso há três anos, após ter planejado e concluído o assassinato de um terço dos funcionários do mercado onde trabalhava. Pra vermos como a segurança daqui é perfeita. –Deu ênfase na última palavra. –O governo daqui não acerta nunca?
-Bem, para começo de conversa, um psicopata nem deveria estar em um presídio... Um presídio não reabilita uma pessoa assim, ele deveria estar em um lugar que o tratasse de forma adequada. –Entreguei-lhe a cesta cheia de doces enquanto falava.
-Pena de morte seria bem mais prático, se quer minha opinião. –Ela parecia irritada. –Uma pessoa assim é um perigo, quase impossível que se torne apta a voltar à sociedade. Deu R$ 30,45.
-Uma bala no meio da testa seria uma solução bem prática. –Sammy entrou na conversa enquanto eu pagava. Algo na expressão sádica dela me fez pensar que, naquele instante, a atendente teve sorte da Sammy ter se obrigado a deixar as armas em casa. –Afinal, pessoas assim são um perigo, não é?
Sam tá sorrindo, alerta vermelho...
-Nunca se sabe quando vão fazer uma loucura. –Ela continuou, se apoiando no balcão. A voz estava mais baixa e lenta, os olhos fixos na garota. –Sabe o que é mais interessante neles? Se quiserem matar você, eles provavelmente vão conseguir. Mesmo que não tenham armas por perto, eles só precisam do motivo certo.
-Sim, acho que são assim. –Peguei um dos braços dela e comecei a puxá-la sutilmente em direção à porta. –Mas, sabe, acho que alguns deles só precisam começar a serem tratados pelas pessoas certas da maneira certa. Vamos Sammy?
...
...
...
-Você ia fazer o quê? Bater nela?! –Puxei a louca pelo corredor, até chegarmos na praça de alimentação. –Acho que precisamos ter uma séria conversa, senhorita! –É tão mais fácil falar assim com ela quando os revólveres não participam da conversa!
Ela sentou em uma das cadeiras e ficou observando a fonte no centro da praça.
-Hey, vai me ignorar? –Sentei na outra cadeira. –Precisa se controlar mais...
Me ignorou, outra vez.
Não insisti. Não quer falar comigo? Tá, não fala. Mas vou ignorar ela também.
Tsc, cinco longos minutos de silêncio.
-É só que... é irritante, às vezes. Só isso. –A garota suspirou. –Ora, não faça drama, o máximo que eu poderia fazer era tentar estrangular ela.
Não consegui evitar rir, e levei um tapa.
-Devia te dar um bichinho de estimação, talvez te deixe mais calma. –Falei irritado. –Um gato, talvez. Se você não matá-lo em uma semana vai ser um bom começo. –Cruzei os braços.
Ela riu.
-Nossa, é essa a imagem que tem de mim? –Perguntou, ainda rindo.
-Não, mas é essa a imagem que você tenta passar.
Outro minuto de silêncio. Sam se levantou, achei que fosse se revoltar e ir embora, mas tive uma certa surpresa:
-Anda, acho que uma loja no outro corredor vende sobretudos. Talvez tenha algum modelo que você não tenha, embora eu ache isso meio difícil.
WTH?!
-Tá com febre? –Devia estar, Sam querer ir comigo a uma loja que vende sobretudos é tão possível quanto um apocalipse zumbi começar nesse instante.
-Você vem ou não? –Ela respondeu, incomodada.
-O que você acha?! –Quase arrastei ela pelo braço até a tal loja. –Ah, espera, lembrei que a geladeira está quase vazia, melhor passarmos no mercado antes.
E assim fizemos. Porém, enquanto passávamos por um dos corredores do mercado pensando no que pegar para o almoço do dia seguinte, uma confusão de gritos e tiros começou. O som do portão batendo com força indicou que ele fora trancado, era a única saída do lugar. Mais três tiros e o som de gritos. Em seguida, silêncio total.
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